Dezoito horas... Esquina do Paraíso com o inferno... Há pouco, o Sol beijou a lua e sob o canto suave da Ave Maria, eles fizeram juras eternas de amor. A Rainha da noite, excessivamente romântica, cheia de saliva, fez amor nos astros e estrelas, deliciou-se na boca do seu amante, virou música, verso, prosa... Ele vai embora. Vazio. Há pouco, ele a pegou por trás e ela sentiu toda a sua paixão escorrer pelo seu sexo, descer até a terra e formar um mar de sangue...
(Salão do bar)
RATO:
Não me condene, não sou vagabundo
Nem tampouco vigarista
Sou um boêmio, um sonhador
Eu tenho alma de artista.
Na mistura do céu e do inferno
Encontrei a esquina do mundo
Da vida, do poeta,
Do doutor, do moribundo.
Aqui ele ri, ele chora,
Toma cana com limão e mel
Toma rum com coca-cola
Com os pés na lama
Olhando para o céu
Desabafa, se esfola
Vai afogando a sua dor.
É a Ribeira dos becos
Da lama, da amargura
Onde tudo e todo sentimento se mistura:
Sangue, Coentro,
Papa-Figo, Urubu,
Medo, Tormento,
Black-Out, Gentileza,
Virtude, Desalento,
Badalo, Fineza,
Tristeza, Lamento.
Cascudo, História,
Siqueira, Poesia,
Djalma, Vitória,
Navarro, Alegria.
Tributino, Destreza,
Carrapicho, Flores,
Zé Areia, Esperteza,
As Marias, Os Amores.
Coragem, Velocidade,
Loucura, Lambretinha,
Óvni, Verdade,
Nazi, Meladinha.
Que se faz esse lugar.
Venha, amigo, se sentar
Não precisa documento
Basta só ter sentimento
E entre uma alegria e outra
Um pouco de lamento
Porque daqui ninguém sai isento
Sem vontade de chorar!
16 comentários:
Texto com gosto de fim de noite (ou começo?). Muito bom! Parabéns!
Lírico, poético, belo, um prenúncio para a beleza e tragédia que virá. Ah, bicha danada de boa dramaturga e escritora de primeira. Que lancemos logo esta peça e que noano que vem ela ganhe os palcos natalenses, preferencialmente na rua. Beijos.
Mais um dos belos e indescritiveis textos de Claudinha que eu li! Cada vez mais envolvente.
Adorei Claudinha,Parabens, beijos mil!!
Como sempre o lirismo romântico presente nas palavras, que em meio a becos e ribeira canta em uníssono os poemas dos desejos e encontros. Valeu. Bjs
Claudinha, o texto tá muito lindo e envolvente. Fiquei arrepiado!Lindo e muito sensível. Tem tudo a ver com você...
assim, como uma rosa desfolhada, desfila a vida do povo que chora, ri, canta. assim, com teus olhos de lince, revira e respinga tudo do que o coração humano transpira.
beijosss
Cgurgel
Esquinas...tantas eu parei e pensei se ali começava ou continuava minha vida musical...que vc ganhe o povo e as ruas dessa cidade e depois um mundo com essa sua verdade !!!
parabéns, florzinha !!!!!
Que texto esplendido e viceral!!! É um pouco de mim, dos outros e de nós. São as voltas que o mundo dá... Mais uma vez como ninguém voce retrata a vida louca com poesia e amor... Estou embriagado de prazer... Sucesso sempre! O céu e o limite... "Vamos que o tempo é pouco muito pouco para quem busca o céu" Lembra? Adoro... Parabéns!!!
"É a Ribeira dos becos
Da lama, da amargura
Onde tudo e todo sentimento se mistura"
De uma beleza, que só com tamanha sensibilidade se consegue descrever.
Parabéns Claudinha, e não pare.
bjs
Delicioso, poético, intrigante...
amei.
Quero ver encenado!
Pela pequena amostra, é o caso de se afirmar: a Esquina do Mundo é também a Esquina da Poesia. Com naturalidade. Com emoção. Esperemos pelo texto completo; esperemos pela peça encenada. Beijos e queijos (do sertão).
kMãezinha,me senti na Ribeira de outrora,dos becos e vielas que inundam nossos sonhos boêmios...
Envolventemente terno.
Te admiro e admiro o seu modo de colocar em form a de texto os sentimentos que povóam esse coração imenso.
beijo e benção
sempre!Mãezinha!
Enxergo o olhar da contemporaneidade nesse trabalho. Que bom quando encontramos autores que resignificam esse tempo sem escambotear para a violência plena.
Enxergo o olhar da contemporaneidade nesse trabalho. Quem bom que ainda há autores que resignificam esse tempo sem escambotear para a violência plena!
Sucesso!
..desejo na esquina, o prazer de fazer a concepção das personas com minha palete de cores etílicas..conte comigo! bjos
ESQUINA DO MUNDO
Um texto profundo, viceral que fala de gente, de vida, que nós os loucos que vivenciamos esses lugares entendem como é carnal, sentimental e verdadeiro.
Parabéns "grande" Cláudia Magalhães.
Beijos
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